Qual o Perfil da Classe Média no Brasil de 2016

Qual é o perfil da Classe B que surgiu no Brasil nesta primeira década do século XXI? – Em muito pouco, ela se assemelha as tradicional Classe Média da 2ª metade do século XX. Motivo que me fez pesquisar e escrever este compêndio, com o objetivo de procurar decifrar como é, e como pensa esta fatia econômica da sociedade brasileira que voltou a assumir uma posição de destaque no contexto de consumo nacional.

Depois da ascensão e queda da Classe C como fenômeno de consumo na era do Lulopetismo, o Brasil voltou a ter sua extratificação de consumo definida como historicamente se enxergava a pirâmide de gastos em bens de consumo. As Classes A e B representando quase 80% dos lares gastam o equivalente a 46,8% do volume monetário comprometido com gastos em bens de consumo. Desbancando o fenômeno de consumo da Classe C que nos últimos 12 anos foi inflada, sem sustentação, pelos programas de transferência de renda do governo federal.

Origem

Para se compreender a Classe Média brasileira atual temos que olhar para a Classe C do final do século XX. Afinal foi dela que a nova Classe B surgiu, trazendo consigo seus valores.

Thomas Friedman, colunista internacional do New York Times em seu livro “ O Mundo é Plano”, define Classe Média como aquela que tem um plano bem definido de ascensão social para o futuro. Representando a escola que analisa as extratificações sociais a partir de aspectos subjetivos e intangíveis. Padrão utilizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV

Diferente do Critério Brasil, qual posiciona os lares a partir da existência de recursos tangíveis, que representem seu padrão de consumo. Nesta análise vou partir pela análise subjetiva das características sociais deste grupo de pessoas, assim como considerado pelo método do IBE-FGV buscando o ajuste fino, a interpretação subjetiva de suas características comuns, para ser observado pelo viés do marketing de consumo.

Social

A Classe Média hj é muito pragmática e como a tradicional tem no status sua posição de desejo. Uma importante constatação sobre a Classe B atual se dá em relação a seus extratos. Pelos padrões de contagem atuais, pertencem a Classe B pessoas com renda entre R$4.591,00 e R$____. Muito bem!

Acontece que as pessoas na base desta classificação ainda se identificam com Classe C, já que com a crescente valorização dos serviços na composição do PIB brasileiro, muitas pessoas que vivem em áreas urbanas e são prestadores de serviços, apesar de estarem extratificadas numéricamente como Classe Média, não tem pretensões de ascensão a Classe A. Característica que marcava a Classe Média do século passado, se entendendo como Classe C, com posse e status de quem conseguiu um bom padrão de status.

Moradia

As moradias da Classe Média refletem sua origem na Classe C. A cozinha é o cômodo de agregação familiar, e também o local para o qual se planeja a exposição de todas as conquistas, através dos inúmeros equipamentos tecnológicos disponíveis para aquela área da casa. Já os quartos, que para a Classe Média tradicional é o cômodo da privacidade, nem sempre o é para a nova Classe B. Uma herança da falta de áreas privativas das casas de seus pais e avós.

A família

Outra importante característica que marca o padrão de consumo das famílias atualmente é a composição de renda. A mulher brasileira alcançou a independência e entrou no mercado de trabalho, o que a deixa mais fora de casa. Com a estabilização da mulher no mercado de trabalho, não podemos mais olhar para cada indivíduo de forma isolada, afinal a renda das famílias é composta por mais de um agente econômico. Característica que traz para o extrato médio da sociedade de consumo pessoas que isoladamente não pertenceriam a tal classe social, mas que a composição de renda familiar permite que se posicionem dentro do perfil definido para tal.

A mulher

Tal ascensão feminina, trouxe outro impacto percebido principalmente nas famílias com filhos. E esse é um dos fatores que fazem com que as mães sintam muita culpa e tentem compensar essa ausência com presentes, e mais uma vez valorizando o consumo em detrimento da formação intelectual.

Consumo

Ao migrar para a classe B, o brasileiro também adota novos hábitos de consumo e passa a sofisticar mais seus gastos, como alimentação fora do domicílio, lazer e viagens. “As famílias vão ao restaurante, ao cinema e viajam pelo Brasil, por exemplo”, diz Pazzini.

Se por um lado a classe C tem como uma das principais características a comparação de preços, a classe B reforça a preocupação com o valor agregado e a qualidade do produto.

A classe B também tem um comportamento mais homogêneo, porque está há mais tempo no mercado de consumo. As famílias já tem tevê, mas querem trocá-la por outra de maior tecnologia, por exemplo. “Quando entra na classe C, por outro lado, a família tem um salto no padrão de consumo, passa a ter acesso a bens que não possuía ou que tinha de segunda mão”, diz o economista Fábio Tadeu Araújo, professor da PUC-PR.

O montante vai para pagar prestação da casa própria, aluguel, despesas com o carro, com alimentação dentro e fora de casa, a escola dos filhos, a viagem de férias e o plano de saúde, dentre outros.

Manutenção do lar

Apesar desse avanço, a manutenção do lar ainda é o que mais pesa no orçamento familiar. Despesas como aluguéis, condomínio, energia, telefonia e tevê por assinatura devem responder por 21% – R$ 37 bilhões – dos gastos das famílias do estado em 2012.

Em segundo lugar vêm os R$ 34,68 bilhões que irão para despesas com prestações para aquisição de imóveis, reformas, empréstimos, carnês e outros investimentos, além de serviços como cabeleireiros, lavanderias, empregados domésticos, e financiamentos.

A alimentação no domicílio deve absorver R$ 15,5 bilhões, seguido por material de construção, com R$ 13,95 bilhões, gastos com veículo próprio, com R$ 8,94 bilhões, e alimentação fora do lar, com R$ 6,39 bilhões.

• Importância das marcas em detrimento do preços
• A área de consumo que sofre com a queda no poder de consumo da classe média são os serviços

Educação, viagem e saúde

Pelo cruzamento dos dados entre 2011 e 2012, também é possível identificar mudanças de padrão de consumo das famílias, que, com o aumento da renda, passaram a usufruir mais de outros bens e serviços. As famílias estão viajando mais, investindo mais na educação privada e em planos de saúde, por exemplo.

Em 2012, as famílias devem viajar mais – esse tipo de despesa é a que mais vai aumentar entre as categorias pesquisadas: 19,9%, para R$ 3,55 bilhões. A educação privada também vem ganhando espaço, e os gastos com mensalidades e material escolar vão aumentar 17,1%. Já os gastos com consultas, seguro-saúde, exames e hospitalização vão crescer quase 17%.

Educação e Cultura

A leitura, análises mais aprofundadas sobre os temas cotidianos, não fazem parte das características desta fração da sociedade. Como o desejo de “ter” através de suas conquistas, as pessoas que estão na Classe B não tem tempo, nem o hábito da leitura, transformando as mídias televisivas e eletrônicas em seu entretenimento principal. Fator inequívoco a pessoas que não tem a pretensão de serem as formadoras de opinião, diferente da Classe Média do século passado que cultivavam este valor como relevante para buscar a ascensão a Classe A.

Luis Vicente Bella Furquim