Escrevi uma estória e queria dividir com vcs.

A História da Família Pereira.

Há 12 anos atrás a família do Zé Pereira ganhou na loteria. Era dinheiro a rodo! Como a há muito não se via. Houveram momentos na história da família do Zé Pereira, em que o dinheiro havia sido abundante também. Foi na época do avô do Zé. Lá pela década de 1920. A fazenda da família sustentava um montão de gente, e ali, pela primeira vez os Pereira começaram a acreditar que seriam uma família importante. Na década de 1950, já quando o cabeça da família era o pai do Zé, o Sr. Juvenal Pereira. Homem bravo e desbravador. Aproveitou um momento único na sua comunidade, e empreendeu. Empreendeu muito. Pegou aquele dinheiro que ganhava e investiu em algumas fábricas para sustentar a família. Mas o modo de investir do Sr. Juvenal não era lá muito ortodoxo e muita gente questionava seus métodos e seus resultados. Como sempre na vida, este período de bonança dos Pereira chegou ao fim mais uma vez.

Mas desta vez os Pereira já tinham um patrimônio. Um patrimônio significativo, que permitiu que a família começasse a viver com conforto. Já mais velho, Sr Juvenal Pereira, viu sua casa entrar em ebulição. Afinal era o momento em que a maior parte da família tinha deixado a fazenda e com conforto da abundância de oportunidades, entraram em crise familiar. A Maria José, irmã do Zé, deixou de falar com ele. Tratava o Zé e seus filhos mal. As desavenças eram constantes.

Num ato de autoridade, como se a distância fosse suficiente para acabar com as desavenças, o patriarca Juvenal Pereira, já no final da vida, mandou o Zé e a família para morar longe. Mas a vida anda. E um dia eles voltaram. Já era final da década de 1970.

Naquele momento, foram muitas emoções que vieram a tona. Saudades, expectativas e a vontade de fazer algo novo. Uma história melhor para os Pereira. Mais estável. Afinal a família já havia passado por muitos altos e baixos. Muitas experiências. Acreditavam que estavam mais maduros.

Foi aí que os 3 filhos do Zé, já crescidos, tomaram caminhos diferentes. O Arnaldo, foi seguir o caminho do crime. Acreditava que o dinheiro fácil era o caminho. Já o Sandoval, foi estudar, pois acreditava que poderia ser um cara melhor. Ter uma visão mais ampla do mundo e conquistaria seu sucesso através do seu conhecimento. Já o Astolfo. Ah! Astolfo!!!! Não aprendeu nada na vida! Queria porque queria seu conforto de volta. A qualquer custo. E foi trabalhar junto com um pessoal esquisito, que acreditava que o sucesso na vida era conseguido de maneira fácil. Sem muito esforço e sem conhecimento. Bastava, manipular aqui e acolá e as coisas aconteciam. E o pior a turma do Astolfo era grande e como não conseguiam trabalho, pois não tinham qualificação, viviam pendurados nos cabides de emprego das empresas por onde o Astolfo passava. Não era uma turma fácil não!!! Falavam alto, e viviam de migalhas, nas noites, de bar em bar, confabulando como poderiam se dar bem. E sabe quem era o grande desafeto desta turma? A turma do Sandoval.

Só por que o Sandoval e sua turma foram a luta. Trabalhavam durante o dia e estudavam a noite. E o mais importante, acreditavam que o mundo ao seu redor poderia ser melhor também. Se espelhavam em exemplos de sucesso, de amigos e conhecidos que haviam conseguido conquistar estabilidade e conforto, com esforço e conhecimento.

Mas nada como um dia depois do outro. E não é que o Zé Pereira, o pai do Arnaldo, do Sandoval e do Astolfo, que depois de voltar da vida no exterior, não havia feito mais nada importante para sua vida. Mas não é que num golpe de sorte, numa fézinha despretensiosa, ganhou o prêmio máximo da loteria? Isso foi em 1994.

Eram abraços pra cá. Beijinhos prá lá! A esta altura o Arnaldo já havia morrido. Assassinado, coitado! Mas para o Sandoval foi a glória. Era a certeza de muita coisa boa dali pra frente. Logo de início, nos primeiros dias de 1995, o Zé Pereira, meio adoentado, pediu para o Sandoval ajuda-lo a cuidar do dinheiro. Arrumaram a casa, trocaram os móveis e arrumaram o jardim. Trocaram as crianças para escolas melhores, mais rígidas, sabe? As escolas na época estavam muito sem controle. Cada um fazia o que queria. Fora isso, haviam alguns problemas com os vizinhos da casa do Zé que a muito tempo traziam dores de cabeça para a família. O Zé e o Sandoval foram lá, negociaram, se acertaram e por fim resolveram este problema da família. E estava tudo entrando nos eixos para que a tal fase de prosperidade e estabilidade da família Pereira, começasse a existir.

E não é que neste momento, no final de 2002, o Zé bateu as botas! Morreu mesmo! Foi triste. Havia planejado tanto montar uma estrutura diferente para a família, mas não deu tempo de ver seu legado realizado. E família é família. Você como é. Com a morte do Zé Pereira o Astolfo começou a disputar com o Sandoval a gestão dos negócios da família. E para conseguir seu objetivo de gerir os recursos da família não poupou artimanhas. Se juntou aos filhos do finado Arnaldo, fazendo intriga e dizendo o quanto era bom e que faria o patrimônio da família crescer. Diferente do que tinha feito na sua própria vida até alí.

E não foi que os filhos do Arnaldo acreditaram nas palavras do Astolfo e o colocaram para gerir o patrimônio?
E foi eim!!!! Mas o tempo passou. E o Astolfo, trouxe para as empresas da família aqueles amigos, que nada faziam, a não ser falar mal uns dos outros. O resultado disso foi que as empresas da família ficaram inchadas de funcionários fantasmas. E tinha até uma turma que, para perpetuar esta situação de trabalho, desviava recursos para amigos e amigos dos amigos.

Hoje, passaram-se 12 anos que o Zé Pereira, não por merecimento, pois nada havia feito para conquistar aquele dinheiro todo. Mas por sorte de estar no lugar certo, na hora certa, conquistou todo aquele patrimônio. E o que se vê são os negócios da família indo para o ralo. Parece mesmo uma sina dos Pereira, viver apenas das lufadas de sorte e oportunidades que a vida lhes traz! Pobres Pereira! Não conseguiram estabilizar sua riqueza. Não conseguiram conquistar a tão buscada estabilidade econômica que a família sempre buscou.

A vida deu suas contribuições. E não foram poucas. Mas os Pereira não souberam administrar as oportunidades que a vida lhes deu. E agora, em 2015, os Pereira, mais uma vez em sua história, vão ter que sair a luta, para correr atrás do prejuízo.

Mas não será fácil, não! Os netos do Zé Pereira não tem ambição nenhuma na vida. Não estudaram. Viveram de cursinhos em cursinhos, que não os qualificaram nem como indivíduos, nem como profissionais. As contas de luz e água da casa dos Pereira estão atrasadas há vários meses, e eles vivem todos os dias sob a ameaça do corte. O que seria péssimo para a família, pois se isso vier a acontecer, a vida na casa dos Pereira vai ficar ainda mais difícil, com a redução do conforto familiar. Na verdade, conforto que pode ser traduzido em “possibilidade de sustento”, pois se as coisas continuarem como estão, daqui a pouco os Pereira vão ter que voltar a cozinhar na lenha, como na época da fazenda.
E por falar em fazenda. Ah, a fazenda! Largada. Completamente largada. Os Pereira há muito tempo deixaram de dar atenção a quem sempre os sustentou de verdade. A fazenda nunca deixou de estar ali, produzindo e alimentando a todos, mas os Pereira, há muito viraram pessoas da cidade e deram as costas para a fazenda. Agora ela produz bem. Mas a estrada que leva a fazenda está um caos. Parte das terras foram perdidas para ex funcionários que em ações trabalhistas duvidosas, levaram parte do patrimônio dos Pereira e o pior, nada fizeram com as terras que conquistaram. Continuam lá, sem produzir nada. Nadinha!

Sabe o que é triste nestes últimos 12 anos da vida da Família Pereira? É que mais uma vez as oportunidades de dinheiro e recursos que a vida lhes trouxe foram desperdiçadas. O dinheiro fácil foi gasto em nos TVs e carros novos. Em tudo aquilo que um dia acaba. Nestes 12 anos, os Pereira não investiram em nada que pudesse dar sustento e novas condições para seus entes e agora, vão ter pagar muito caro por este tempo perdido, pois vem aí mais 12 anos em que os Pereira vão ter que correr atrás do prejuízo, quando poderiam estar correndo atrás das oportunidades.

Mas como se diz, desde a época da fazenda: – “aqui se faz, aqui se paga”. Espero que em algum momento no futuro, os Pereira possam aprender que não se vive apenas no presente. No presente, também se pensa no futuro. – Que venham os próximos 12 anos para os Pereira, de preferência sem a turma do Astolfo a frente dos negócios da família. Pois não dá mais para viver de oportunismo.

Nota do autor: Quaisquer coincidências de fatos, atividades e datas não são coincidências. São fatos reais na vida de um povo, que pouco aprendeu nos últimos 100 anos. E continua a cometer os mesmos erros de ciclos passados. E que vivendo a vida, apenas pensando no presente, não aproveitou as oportunidades que a vida lhe trouxe em épocas diferentes de sua história vive cada vez mais de forma individualista, sem planejar e executar nada para seu futuro. Com isso a expectativa de que o Brasil seria o país do futuro, ruiu, deixando o gosto amargo da desilusão. Quando a Família Pereira vai levantar as cabeças, tomar as rédeas de suas vidas e começar e descobrir que cada ação positiva gera uma reação positiva. Que a atitude de cada ato, na somatória, se torna um ato grandioso?

Luis Vicente Bella Furquim